De segunda a quarta-feira, o shIft mergulhou na Aldeia da Inovação Social, um grande encontro promovido pelo Portugal Inovação Social (entidade que gere o fundo público que financiou o nascimento do shIft) e parceiros. Terça e quarta foram dias cheios de caminhadas pela Aldeia da Luz.
Caminhadas reais em que encontrámos tantos amigos, pessoas inspiradoras, resilientes, teimosas quer em continuarem a fazer a diferença com os seus projetos de impacto, quer em apoiarem este ecossistema ainda frágil (mas cheio de força).
Caminhadas mentais, longas viagens de ideias e pensamentos a fervilhar fruto dos debates, mesas redondas e workshops em que pudemos participar. Encontros e encruzilhadas, para digerir hoje e nos próximos dias.
Mas na segunda, ainda a Aldeia estava calma, à exceção da equipa de coordenação que frenética montava e desmontava, carregava e desempacotava, tivemos um especial encontro da Rede de Incubadoras de Inovação Social, a que pertencemos e que tem desenvolvido um trabalho gradual nos últimos anos de construção de sinergias entre estas Incubadoras que nos seus territórios ou com cariz nacional se dedicam a apoiar jovens e adultos empreendedores a construir os seus projetos de vida, numa missão de impacto que se entende às suas vidas, famílias, comunidades e sociedade. O shIft assumiu com entusiasmo um papel na liderança desta rede, com outras quatro incubadoras fantásticas (pessoas fantásticas, é o que queremos dizer, já se sabe!), decididas a por as mãos na massa para melhor servirmos as mentes criativas do país – Henrique Sim-sim do Centro de Inovação Social da Fundação Eugénio de Almeida, João Ramos da Start-up Leiria, Elizabete Eufémia da Hivework Social da Associação Tempos Brilhantes, e Frederico Cruzeiro Costa, da Fábrica do Empreendedor da Social Entrepreneurs Agency.
Trazemos inspiração e necessariamente inquietações que partilhamos em uns poucos tópicos. Se estão a pensar também neles, falem connosco a ver se os desenvolvemos em conjunto 🙂
Em que perna do K te estás a focar? Apanhar a onda ascendente ou impedir a curva descendente? Explicava o António da Maze que no pós-covid, se pensou que teríamos um movimento em V (desce mas depois cresce) mas estamos a ver uma recuperação em K – em que alguns crescem exponencialmente mas em que se verifica um agravamento das desigualdades, acentuado pela rápida evolução do digital. Em que perna do K vamos focar as nossas atenções? Quem se preocupa com tantos que ficam para trás? Qual a nossa responsabilidade? Como adequar os serviços e produtos para combater este desequilíbrio?
Prepara-te que o dinheiro vem com muitas letrinhas pequenas! No tema sempre fundamental mas difícil dos financiamentos e investimento de impacto, encontramos gente criativa a pensar em novas oportunidades de financiamento, novos instrumentos. Encontramos empresas fundamentais do ecossistema como a Fidelidade (que equipa alegre!) e também empresas generosas mas pouco estratégicas e com pouca relação de longo prazo com os projetos – é preciso ser mais paciente, diria a Nathalie Ballan da Sair da Casca. Fazem-se anúncios de financiamentos públicos a abrir mas não fugimos à elevada carga burocrática que exige competências das equipas e maturidade da organização (bem transparente foi a Vanessa da Tese, obrigada!), e muita muita muuuuuita resiliência e criatividade (sabemos o que custa e a ambivalência que carregamos com este fundamental player que é o Estado).
Paciência não é lerdeza! 🙂 (dizia uma mentora nossa, vinda do Brasil). Ouvimos que é preciso tempo para nos tornarmos naquilo que podemos ser. Isto de empreender com uma missão de impacto social é um crescimento lento e temos de dar tempo e espaço e graça a nós mesmos, às entidades que têm de mudar. É preciso tempo mas não podemos ser “moles” no que nos toca a nós neste processo. É preciso capacitar as equipas, acabar com esta falta de literacia na economia social e apelar a que invistam também nisto – pessoas bem remuneradas e capacitadas, talento tão difícil de captar e reter para todas as entidades e ainda mais para este setor ainda com muitos preconceitos (de dentro e de fora) sobre dinheiro. Antecipa-se a utilidade da Ferramenta de diagnóstico do IES Social Business School e do PIS, queremos testá-la em nós próprios e nos nossos shifters!
Sem empresas sociais regulamentadas, vamos todos abrir cooperativas? Ter uma associação e uma empresa ao mesmo tempo? Governance, o desafio das estruturas jurídicas para enquadrar inovação, sustentabilidade (e pagamentos justos aos colaboradores) e melhorar a relação com stakeholders e potenciais financiadores/ investidores. Existem cada vez mais negócios sociais mas ainda não empresas sociais mas que isso não nos pare de mudar o chip da Economia Social. Há que se ser criativo nos enquadramentos para sermos sustentáveis e produzirmos valor (e era bom que além do groundbreaking trabalho da VdA, que a Maria Folque tão bem representa, outras sociedades e movimentos aprofundassem conhecimento – os nossos shifters sentem falta deste apoio clarificador, direto, orientador!).
Tornamo-nos fornecedores de empresas (social procurement), o que é ótimo, e praticamos preços mais baixos que o restante mercado porque recorremos a Voluntariado…! Ui, essa conversa foi dura… equilibrar o envolvimento cívico sem o tornar uma arma para explorar pessoas e baixar preços de produtos e serviços prestados. Somos relembrados que esse não devia (não pode!) ser o fator distintivo da Economia Social. Que trabalho profundo estamos a fazer para nos diferenciarmos positivamente? É na qualidade, é no impacto, é na democratização e combate às desigualdades, mas é porque também podemos dizer com garra que somos os especialistas no conhecimento da problemática social/ambiental (societal) e da comunidade/população em que desenvolvemos atividade. Somos o stakeholder do terreno, da voz das pessoas, das histórias reais. Falta-nos o tempo (gasto – talvez…, em processos de reembolsos) para clarificar o valor social do que fazemos – relacionando-o com políticas públicas, mas já estamos melhores em manter o foco no impacto e na gestão do mesmo (processos e avaliação).
Onde anda o próximo Unicórnio? O Carlos da IES fez-me gostar ainda mais de zebras, essas que são híbridas, misturando o preto e o branco, que andam em manadas (a fundamental comunidade e rede, relembram-me que as parcerias é que permitem crescimento), são rápidas e ágeis, e, espantem-se, são reais e podemos encontrá-las no terreno e não só em fantasias 🙂
E por fim, encontramos já espaços de capacitação de grande qualidade, seja em escolas mais ou menos formais, seja nas fundações, incubadoras como o shIft e centros de inovação. Talvez só não os encontremos (muito… ainda…) nas Universidades, que mesmo assim marcam presença e fazem a diferença a começar de dentro para fora, como nos dizem com paixão o José Carlos Mota da Universidade de Aveiro e o Rui Pedrosa do Politécnico de Leiria.
Aqui que já ninguém nos lê, falta-nos o espaço para mencionar as conversas e momentos partilhados com tantos outros… fica um abraço à Joana, nossa mentora que representa o GRACE, à Joana e Filipa a inovar na Coimbra Coolectiva, ao Fábio e Milena que nos trazem a garra e provocação do Brasil, às várias Anas e gente do Norte das incubadoras, à Susana de Ponte de Sor com quem partilhei tomadas para carregar o telemóvel, às pessoas das filas para os hambúrgueres e para beber um copo de vinho. Brindemos à inovação social e let’s continue to make shift happen!